Localidade, engenho, povoação, arrebalde e atualmente bairro, essa foi a evolução urbana observada nas terras de Apipucos, desde o século XVI até os dias atuais. Distante, cerca de nove quilômetro do centro do Recife, o bairro de Apipucos começou sendo habitado por gente simples, que ocupava uma área constituída por dois arruados. Até o século XVIII, a paisagem era caracterizada por engenho, mas a partir do século XIX surgem sítios e chácaras onde os moradores do centro passavam os meses de verão. Possui 1,2 quilômetros quadrados de área, uma população de mais de 3.000 habitantes e é protegido pela lei municipal 13.975/1979.
Nesse bairro, num ambiente de muita paz, se instala, em 16 de janeiro de 1911, a comunidade dos Irmãos Maristas do Norte do Brasil. Naquele dia, o Irmão Conon, acompanhado do Irmão Ludovico, visitaram uma casa que já lhes tinha chamado a atenção. No dia seguinte, o então Provincial, Irmão Alypius, também visitou a casa, cujo local agradou-lhe e tomou a resolução de adquiri-la. E eis que, em 27 de fevereiro do mesmo ano, a jovem comunidade instala-se na nova residência. Finalmente, no dia 14 de maio de 1914, um sábado, a Província tornou-se proprietária definitiva da casa e de seus 8 hectares de terreno que formavam esse sítio, pelo módico preço de 14 contos, mais as despesas de cartório. A partir daí, os Irmãos tornaram-se pedreiros, serventes e carpinteiros, numa série de construções que, com advento da primeira grande guerra mundial, tiveram que parar no período de 1914 a 1918. Somente nos idos de 1920 é que foi retomada a construção do lado sul, uma ala de 31 x 18 metros, com andar. Depois veio a construção da capela, em 1926, com projeto de ampliação.


A partir de 1950, a casa já apresentava várias outras construções sucessivas, de modo a poder alojar, àquela época, comodamente, umas 200 pessoas, entre juvenato, noviciado e escolasticado.

Esse clássico e moderno prédio de Apipucos, abriga hoje a Faculdade Marista do Recife
E foi em primeiro ou cinco de março do ano de 1924, nesse verdadeiro laboratório marista de Apipucos, transpondo o portão de entrada da antiga Casa Provincial, que as antigas palmeiras imperiais saudaram o caminheiro e convida-o a sentir-se em casa, o meu saudoso Pai. Posso até imaginar o encanto e o seu espanto ao adentrar nesse recanto de paz e orações, carregando no seu âmago as lembranças do seu lar paterno, as recomendações de sua mãe, as saudades das mais lembradas de seus irmãos, tudo isso no imaginário de um jovem que contava apenas 16 anos de idade.
Segundo o diretor-geral do Colégio Marista Cearense, Ir. Ailton dos Santos Arruda, em seu discurso proferido em 20 de janeiro de 2006, durante a cerimônia de inauguração do novo campus da Faculdade Marista Recife, que está instalada na antiga Casa Provincial dos Maristas de Apipucos, ressaltou que da casa primitiva, resta apenas o térreo, que se encontra à esquerda de quem sobe a atual escadaria central e algumas paredes do 1º andar, do mesmo lado.
Destacou, ainda, que levas de candidatos do interior do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, bem como alunos dos Colégios Maristas daqueles Estados, mais o Pará, o Maranhão e a Bahia tiveram, nesse seminário, o início de uma formação sólida e atualizada.
Segundo ele, à época de meu pai, falava-se o francês durante todas as manhãs e, à tarde, primava-se em falar um português correto, incentivado nas sessões literárias, nas peças teatrais, com a orientação de professores abnegados. Em sua capela ressoava o canto Gregoriano do Salve Regina matinal, das missas e vésperas cantadas aos domingos. O som dos harmônios e pianos faziam-se ouvir animado por mãos adolescentes, sedentas de arte e devoção.
E foi nesse educandário de referência do saber e da cultura Marista, que meu saudoso pai, na condição de aluno interno, perseguiu o ideal marista, na sua caminhada com estudos sérios, num ambiente de muita paz e recolhimento, marcado pela oração e pela vida comunitária, seguindo a tradição e os costumes maristas. Mas essa não era a escolha definitiva de meu pai, em abraçar verdadeiramente a vida marista, que no fervor de sua adolescência alimentava seus sonhos em ser um dos continuadores do projeto de São Marcelino Champagnat.
Tudo isso, meu saudoso pai vivenciou e participou do esplendor dessa casa de formação marista, onde por aqueles corredores passaram verdadeiros maristas, dentre os quais, o menor marista que foi meu pai, cujos nomes estão gravados nas lápides do cemitério e no livro da vida. Cada recanto, cada sala, cada espaço daquela casa têm histórias de amor e dedicação para contar.
Nessa casa de formação educacional e religiosa, meu pai ingressou no Juvenato em 05 de maio de 1926, tomando o hábito religioso em 13 de janeiro de 1927, e emitindo os primeiros votos em 13 de janeiro de 1928.
Em janeiro de 1929, transfere-se para o afamado Instituto de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, para completar a sua formação marista. Apipucos com certeza foi a Capital do Coração de meu pai, porque lá se enraizou a sua cultura humana e religiosa.
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