sábado, 29 de setembro de 2007

IRMÃO LINO GABRIEL


Filho de José Moreira Pinheiro Landim e de Eduviges de Lima Landim, veio ao mundo em 11 de julho de 1907, na Fazenda Feijão de propriedades de seus avós paternos, Francisco Rodrigues Pinheiro Landim (PAI LANDIM) e de Josepha Dina Dantas Landim (MÃE DINA), localizada na povoação de Campos Belos, então distrito do município de Pacoti-CE.
Passou sua primeira infância nesse ambiente puro, simples e bucólico, recebendo dos pais uma sólida formação cristã.
Em primeiro de março do ano de 1924, aos 16 anos, ingressa como aluno na antiga Casa Provincial dos Maristas, em Apipucos, Recife-PE, onde, em 5 de maio de 1926, entra no juvenato, ou seja, primeira etapa de formação à vida religiosa.
O noviciado e a tomada de hábito se deram em 13 de janeiro de 1927, também em Apipucos, quando tomou o nome religioso de “Lino Gabriel”. Um ano depois, em 13 de janeiro de 1928, ainda em Apipucos, fez seus primeiros votos, deixando esse centro educacional e religioso de referência em janeiro de 1929.
Em 4 de fevereiro de 1929, procedente de Apipucos, Recife-PE, congrega-se aos maristas do afamado Instituto Nossa Senhora de Nazareth, em Belém-PA, quando, em 16 de dezembro de 1932, faz sua Profissão Perpétua.
O Ir. Lino, como religioso, exerceu o magistério no Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, no período de 4 de fevereiro de 1929 a 31 de julho de 1935.
Dedicou-se à causa marista durante 11 anos, infelizmente não tendo firmeza em sua vocação religiosa, deixa a Comunidade Marista em julho de 1935, retornando ao Ceará em meados de 1936 para, a convite de seu primo legítimo e Vigário da Paróquia de Morada Nova-CE, Pe. Aluísio Ferreira Lima, exercer as funções do magistério em um estabelecimento de ensino da rede municipal.
O Irmão Luiz Edílson Pinheiro Landim ou (Irmão Lino Gabriel) veio a falecer em 15 de junho de 1987, em Fortaleza-CE, já octogenário.
Resgatar e lembrar a história do Irmão Lino Gabriel, ou de meu pai Luiz Edílson Pinheiro Landim, é motivo que me leva a construção deste BLOG, cujo espaço é destinado a compartilhar lembranças e emoções que marcaram a vida daquele que, como Irmão Marista, soube honrar, enquanto religioso, aquela Congregação e, como Pai, deixou-nos a encontrar na terra de nossa missão um estímulo para nossa vida interior.

Página 220 do Livro de Registro Geral da Província Marista Brasil Norte - Volume I, onde consta a matrícula do Irmão Lino Gabriel (nome religioso) e, de batizado, Luiz Edilson Pinheiro Landim, sob o número de matrícula 9244. O original desse registro se encontra arquivado na Secretaria Provincial Brasil Centro-Norte, SMPV - Quadra 05 - Conjunto 14 - Lote 05 - Unidade A - PARK Way - 71735-514 - Núcleo Bandeirante - DF.

Alunos e Irmãos Maristas pousando no recinto interno da antiga Casa Provincial Marista, em Apipucos, Recife-PE. Da esquerda para a direita de quem olha a foto, na última fila de pé, o terceiro postado, é o Irmão Lino Gabriel, ou seja, o meu pai Luiz Edilson Pinheiro Landim. Essa foto foi tirada no ano de 1928, como também é a única foto existente dos maristas dessa época. A original dessa foto se encontra arquivada no Historial Marista da Faculdade Marista de Recife, à Rua Jorge Tasso Neto, 318 - Apipucos.

O INSTITUTO N. S. DE NAZARETH e seus votos perpétuos

Após a permanência de cinco anos na antiga Casa Provincial dos Maristas, em Apipucos, Recife-PE, o meu saudoso Pai se transfere para a cidade de Belém, no Pará, para dar continuidade a sua formação religiosa, que se deu no Instituto Nossa Senhora de Nazareth.
Sua chegada a esse Instituto aconteceu em 4 de fevereiro de 1929, permanecendo no mesmo como Irmão Marista até julho de 1935.
Há de se registrar que meu pai antes de se encaminhar para aquele centro de formação Humana e Cristã de referência, esteve em visita em janeiro de 1929 à casa paterna, pois até então, desde a sua ida a congregação marista em Apipucos-Recife-PE, nos idos de 1924, ainda não tinha estado com seus venerados pais.
Esse acontecimento foi minuciosamente relatado por minha saudosa Tia Mariinha, em sua caderneta de anotações pessoais, que ainda hoje a guardo com muito carinho e que ora transcrevo com a grafia como lá se encontra: "Chegou Irmão Lino Gabriel vindo de Pernambuco em visita a família. Passou em minha casa domingo 20, fomos para Mel. Vaz no dia 21 e voltamos no dia 22 em uma terça-feira, neste mesmo dia partiu para Fortaleza, tendo ido no dia 24 para Lagôa Seca em visita aos nossos caros pais.
De volta regressou para o Pará tendo saído de Campo Bello a 1 h e 15 da tarde.
Veio com Irmão Joaquim.
Campo Bello 23 de janeiro de 1929.
Saudades de meu querido irmãosinho"
Meus avós, a essa época, residiam na Fazenda Lagoa Seca, de propriedade do senhor João Barreto Moreira, onde para lá meu avô foi gerenciar, localizada no atual município de Jaguaruana, antigamente denominado de União.
Essa visita de meu pai também foi registrada por sua mãe, minha avó Heduviges de Lima Landim, em sua caderneta de anotações pessoais, que assim se prescreve: "Fez a 1ª visita aos pais no dia 23 de janeiro, voltando no dia 30 às 11h e 30 da noite".
Nesse afamado Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, meu pai professou seus votos perpétuos em 16 de dezembro de 1932. Como Irmão Marista exerceu o magistério nesse colégio entre 4 de fevereiro de 1929 até a sua saída em julho de 1935, lecionando as disciplinas de português e geografia, transformando os seus alunos em bons cristãos e ótimos cidadãos. Como mestre e marista revelou sempre ótimas qualidades morais que o tornaram, sobremodo, estimado por quantos o conheceram, segundo declarações por escrita do diretor provincial à época, Irmão Bernardo Aguiar. Também, nesse Instituto, meu pai veio a diplomar-se em Técnico de Contabilidade.

Grupo de alunos e Irmãos Maristas do Instituto Nossa Senhora de Nazareth. Essa foto foi tirada entre os anos de 1930 a 1934.

Ao centro da foto vemos o Diretor Provincial do Instituto Nossa Senhora de Nazareth, Irmão Bernardo Aguiar, ladeado de "Acolythos"


Alunos e Irmãos Maristas do Instituto Nossa Senhora de Nazaré. Ao centro vemos o Diretor Provincial, Irmão Bernardo Aguiar.


Consta no verso dessa foto a seguinte dedicatória: "Ao meu muito querido padrinho Irmão Lino Gabriel, offereço esta minha photographia como prova de minha sincera amizade.
Deste que muito lhe preza.
4-XII-34. Ramiro Koury".
Não sei se esse jovem seguiu a carreira marista. Supondo-se que ele contasse na época dessa foto com 13 anos de idade, ele hoje estaria com 86 anos.

Alunos e Irmãos Maristas do Instituto Nossa Senhora de Nazareth. Ao centro vemos o Diretor Provincial, Bernardo Aguiar.

Consta no verso dessa foto apenas a seguintes expressão: “Oferecido pelo Ir. Reginaldo”


Momentos de lazer em alguma praia de Belém-PA





O Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré


Em 1902, o Colégio do Carmo, em Belém-PA foi entregue ao clero, sob a direção do Bispo D. Francisco do Rego Maia, que por motivos de força maior deixa o espaço do colégio fechado. Nesse mesmo ano, sabendo do trabalho de educação religiosa dos Irmãos Maristas, entra em contato como Supervisor Geral, Ir. Théophane Durand, com o pedido da vinda os religiosos para assumirem o Colégio do Carmo.
A princípio houve uma recusa por parte do Re. Ir. Théophane, porém, algum tempo depois, em viagem a Roma, o Bispo de Belém e Superior Geral, por intermédio dos cardeais Ferrata e Rampolia encontram-se com a S. Santidade Leão XIII. "(...) o soberano pontífice falou-lhe com interesse do projeto do Bispo de Belém, o aprovou e abençoou. Era uma ordem. Ao sair da audiência, Dom Rego Maia recebia aviso que quatro irmãos partiam logo para o Pará e assim fundariam a Província Marista Brasil Norte." (Um quart de siécle, Apipucos, 1929, p.12.)
Designando a equipe com a expedição, o Irmão Libório nomeia como chefe de grupo o Irmão Luiz que já tinha 25 anos de carreira nos diversos ofícios da Província, que logo aceitou a oferta e jamais retornou a França.
Outros três Irmãos foram incluídos na expedição. O Irmão Ludovico pediu para fazer parte e e dois novos Irmãos, o Irmão Augusto e o Irmão Paulo, que iniciaram o apostolado na Argélia, também foram chamados para completar o grupo.
No dia 18 de março de 1903, os quatro Irmãos assistiram a uma cerimônia de despedida na casa de Aubenas (França). Antes da viagem, passaram no túmulo do Padre Marcelino Champagnat e passaram em Saint-Genis-Laval, casa geral dos Maristas para receber a benção dos Superiores Maiores. Estiveram, também, em Lyon para confiar à Santíssima Virgem a sua Missão.
No dia 23 de março daquele mesmo ano, embarcaram no porto de Havre, no conhecido navio denominado "Jerome" da Booth-Line. Após a longa viagem desembarcaram na cidade de Belém no dia 12 de abril de 1903, num domingo de Páscoa.
Ao chegar ao porto de Belém, os quatro Irmãos foram recebidos pelo Monsenhor Muniz, Vigário Geral e pelo Padre Enéias Lima, Capelão do Colégio do Carmo, já que o então Bispo D. Francisco do Rego Maia, que havia feito o convite para que os Irmãos Maristas assumissem o Colégio do Carmo, ainda estava na Europa.
Ao chegarem ao Colégio do Carmo, os Irmãos ficaram desapontados ao vê-lo completamente abandonado, mesmo passando-se seis meses da última ocupação. Eles tiveram um árduo trabalho de colocar tudo em condições de funcionamento. Por surpresa dos Irmãos, que nem haviam aprendido a língua portuguesa ainda, foi anunciado no Jornal da cidade a abertura do colégio nos primeiros dias de maio daquele mesmo ano. Mesmo assim, puderam receber seus primeiros alunos, sendo o jovem João da Mota Barros, natural de Cametá, o primeiro aluno a ser matriculado.
Em 1913, o diretor e Irmão João Court, muito respeitado pelos Irmãos e apreciado pelos alunos, realiza um projeto de auto teor religioso e social, fundando a Escola "São José" de ensino gratuito que beneficiava os meninos pobres.
Embora o Colégio do Carmo tivesse capacidade de abrigar boa parte dos alunos, os Irmãos não estavam satisfeitos com a sua localização, as famílias reclamavam por um espaço mais central. Foi no intuito de atender a essa reivindicação, que no dia 13 de janeiro de 1914, abriu-se no bairro de Nazaré, na Travessa 14 de Março, mais uma sede intitulada "Instituto Nossa Senhora de Nazareth" sob a direção do Irmão Eloy, auxiliado pelos Irmãos Maristas Henrique e Bernardo Aguiar. Nesse primeiro ano foram 40 os alunos matriculados, constando como os primeiros alunos os Irmãos Eurico e Cláudio Melo.
Em 1915, com o aumento de número de alunos, o Instituto ganhou um novo endereço, localizado na Avenida Nazaré, número 81. Mesmo com a crise da borracha e a conseqüente diminuição do número de alunos, o Instituto Nazareth manteve-se como exemplo pela sua excelente qualidade.
Em 1926, o irmão Antônio Reginaldo foi nomeado diretor do instituto, já em pleno desenvolvimento. E a 15 de agosto do mesmo ano, foi lançada a pedra fundamental do edifício que se chama atualmente Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré sob a proteção material da Virgem de Nazaré, padroeira da cidade de Belém.
Desde então, muitos Irmãos passaram por aqui deixando um pouco de si para desenvolver este trabalho tão grandioso, que é a construção do ser humano, através de educação nos níveis pessoal, social, político e acima de tudo, como uma escola católica, proclamar a todos a boa nova da Salvação e juntamente com a família ensinar aos seus educandos a viverem conscientemente como filhos de Deus.
O Irmão Antônio Reginaldo, citado acima, o meu pai chegou a conhecê-lo, pois disponho de uma foto desse afamado Instituto ofertado por esse Irmão Marista ao meu pai.

APIPUCOS, o celeiro do saber e da cultura Marista


Localidade, engenho, povoação, arrebalde e atualmente bairro, essa foi a evolução urbana observada nas terras de Apipucos, desde o século XVI até os dias atuais. Distante, cerca de nove quilômetro do centro do Recife, o bairro de Apipucos começou sendo habitado por gente simples, que ocupava uma área constituída por dois arruados. Até o século XVIII, a paisagem era caracterizada por engenho, mas a partir do século XIX surgem sítios e chácaras onde os moradores do centro passavam os meses de verão. Possui 1,2 quilômetros quadrados de área, uma população de mais de 3.000 habitantes e é protegido pela lei municipal 13.975/1979.
Nesse bairro, num ambiente de muita paz, se instala, em 16 de janeiro de 1911, a comunidade dos Irmãos Maristas do Norte do Brasil. Naquele dia, o Irmão Conon, acompanhado do Irmão Ludovico, visitaram uma casa que já lhes tinha chamado a atenção. No dia seguinte, o então Provincial, Irmão Alypius, também visitou a casa, cujo local agradou-lhe e tomou a resolução de adquiri-la. E eis que, em 27 de fevereiro do mesmo ano, a jovem comunidade instala-se na nova residência. Finalmente, no dia 14 de maio de 1914, um sábado, a Província tornou-se proprietária definitiva da casa e de seus 8 hectares de terreno que formavam esse sítio, pelo módico preço de 14 contos, mais as despesas de cartório. A partir daí, os Irmãos tornaram-se pedreiros, serventes e carpinteiros, numa série de construções que, com advento da primeira grande guerra mundial, tiveram que parar no período de 1914 a 1918. Somente nos idos de 1920 é que foi retomada a construção do lado sul, uma ala de 31 x 18 metros, com andar. Depois veio a construção da capela, em 1926, com projeto de ampliação.



Esse é o complexo magnífico da antiga Casa Provincial de Apipucos




A partir de 1950, a casa já apresentava várias outras construções sucessivas, de modo a poder alojar, àquela época, comodamente, umas 200 pessoas, entre juvenato, noviciado e escolasticado.


Esse clássico e moderno prédio de Apipucos, abriga hoje a Faculdade Marista do Recife



E foi em primeiro ou cinco de março do ano de 1924, nesse verdadeiro laboratório marista de Apipucos, transpondo o portão de entrada da antiga Casa Provincial, que as antigas palmeiras imperiais saudaram o caminheiro e convida-o a sentir-se em casa, o meu saudoso Pai. Posso até imaginar o encanto e o seu espanto ao adentrar nesse recanto de paz e orações, carregando no seu âmago as lembranças do seu lar paterno, as recomendações de sua mãe, as saudades das mais lembradas de seus irmãos, tudo isso no imaginário de um jovem que contava apenas 16 anos de idade.
Segundo o diretor-geral do Colégio Marista Cearense, Ir. Ailton dos Santos Arruda, em seu discurso proferido em 20 de janeiro de 2006, durante a cerimônia de inauguração do novo campus da Faculdade Marista Recife, que está instalada na antiga Casa Provincial dos Maristas de Apipucos, ressaltou que da casa primitiva, resta apenas o térreo, que se encontra à esquerda de quem sobe a atual escadaria central e algumas paredes do 1º andar, do mesmo lado.
Destacou, ainda, que levas de candidatos do interior do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, bem como alunos dos Colégios Maristas daqueles Estados, mais o Pará, o Maranhão e a Bahia tiveram, nesse seminário, o início de uma formação sólida e atualizada.
Segundo ele, à época de meu pai, falava-se o francês durante todas as manhãs e, à tarde, primava-se em falar um português correto, incentivado nas sessões literárias, nas peças teatrais, com a orientação de professores abnegados. Em sua capela ressoava o canto Gregoriano do Salve Regina matinal, das missas e vésperas cantadas aos domingos. O som dos harmônios e pianos faziam-se ouvir animado por mãos adolescentes, sedentas de arte e devoção.
E foi nesse educandário de referência do saber e da cultura Marista, que meu saudoso pai, na condição de aluno interno, perseguiu o ideal marista, na sua caminhada com estudos sérios, num ambiente de muita paz e recolhimento, marcado pela oração e pela vida comunitária, seguindo a tradição e os costumes maristas. Mas essa não era a escolha definitiva de meu pai, em abraçar verdadeiramente a vida marista, que no fervor de sua adolescência alimentava seus sonhos em ser um dos continuadores do projeto de São Marcelino Champagnat.
Tudo isso, meu saudoso pai vivenciou e participou do esplendor dessa casa de formação marista, onde por aqueles corredores passaram verdadeiros maristas, dentre os quais, o menor marista que foi meu pai, cujos nomes estão gravados nas lápides do cemitério e no livro da vida. Cada recanto, cada sala, cada espaço daquela casa têm histórias de amor e dedicação para contar.
Nessa casa de formação educacional e religiosa, meu pai ingressou no Juvenato em 05 de maio de 1926, tomando o hábito religioso em 13 de janeiro de 1927, e emitindo os primeiros votos em 13 de janeiro de 1928.
Em janeiro de 1929, transfere-se para o afamado Instituto de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, para completar a sua formação marista. Apipucos com certeza foi a Capital do Coração de meu pai, porque lá se enraizou a sua cultura humana e religiosa.

sábado, 22 de setembro de 2007

A SUA OPÇÃO MARISTA

Nunca meu saudoso Pai me falou sobre a sua pretensão à vida religiosa antes de conhecer minha mãe e a tomá-la como sua esposa. Tomei conhecimento desse fato somente após a sua morte. Nem mesmo tive curiosidade, quando adolescente, de dar uma olhadela, às escondidas, a uma agenda pessoal sua, de cor avermelhada, que sempre a guardava com muito zelo. Não tenho lembranças se minha saudosa Mãe chegou a me participar sobre essa sua inclinação religiosa, apenas guardo vagas recordações de quando ela me falava que meu pai teria feito uma viagem à Belém do Pará, via marítimo, em face de existir em casa uma velha mala em madeira, em formato de uma caixa, com tampa, onde constava na mesma, em sua parte interna, uma estampa oval, em papelão, da figura de Nossa Senhora Imaculada Conceição. Sobre essa mala, tenho lembranças que minha mãe muitas vezes, em tom pilhérico, falava sobre a viagem de meu pai com essa mala pitoresca, mas nunca comentando sobre a sua finalidade.
Passados alguns anos do falecimento de meu pai, inclusive o de minha mãe, estive visitando o tio Jairo, de saudosa memória e, em sua casa, tomei conhecimento que meu pai tinha feito parte da Congregação Marista, inclusive tomado o hábito com o nome religioso de Lino Gabriel. Após essa revelação, enveredei-me em sondar sobre esse fato, indagando às minhas irmãs sobre os documentos que os deixou em vida, já que o mesmo era extremamente zeloso e cuidadoso em guardar todo tipo de documentos que lhe convinha e, para minha surpresa e emoção, me deparei com sua agenda pessoal de cor avermelhada que, quando adolescente, algumas vezes o via a folhear. Com minhas mãos trêmulas vislumbrei página por página, aquela agenda já com suas páginas amareladas e envelhecidas pelo tempo, e lá constavam alguns dados, dentre outros, como: "Saí do Feijão, minha terra, terra em que nasci, a 25 de fevereiro de 1924. Chegada em Apipucos no dia primeiro de março, em um dia de sábado de 1924. A tomada de hábito foi no dia 15 de janeiro de 1927". Verdadeiramente estava correta a afirmativa de meu Tio Jairo. E num amontoado de documentos, também vislumbrava um álbum datado de 1935, onde nele constavam várias fotos de alunos e Irmãos Maristas do Instituto de Nossa Senhora de Nazaré, de Belém, do Pará. E com uma lupa percorri vagarosamente, cada rosto de alunos e irmãos maristas daquele Instituto, na busca de encontrar a de meu Pai, mas logo o percebi que no meio daquela gente, com certeza, ele não estava. E mais uma prova se estampava diante dos meus olhos, quando observei uma foto com uma dedicatória de um afilhado seu, que era acólito daquele Instituto Marista, que assim se lia com a grafia da época: "Ao meu muito querido padrinho Ir. Lino Gabriel, offereço esta minha photograpfia como prova de minha sincera amizade. Deste que muito lhe preza. 4-XII-34. Ramiro Koury." Interessante que sobre o nome Ir.Lino Gabriel, estava sombreado com outro nome, ou seja, Luiz Landim Pinheiro, uma forma de meu pai disfarçar desse seu nome religioso, que somente com a lupa é que me veio dá a certeza do nome Ir. Lino Gabriel. E mais uma vez o meio tio Jairo acertava.
Meses depois, eu vim dar como verdadeiro o fato de meu pai ter sido um ex-Irmão Marista, que me fascinou e me deu muito orgulho. Essa verdade veio por fim numa anotação registrada, com muito detalhes, em uma agenda de apontamentos datada de 1928, que pertencia à minha saudosa Tia Mariinha, que ainda hoje a guarda com muito carinho, onde nela consta o relato de uma visita que meu pai fez a meus avós em 1929, quando os mesmos moravam na Fazenda Lagoa Seca, de propriedade do senhor João Barreto Moreira, onde para lá meu avô foi gerenciar, localizada no atual município de Jaguaruana, antigamente denominado de União. Essa agenda me foi presenteada muitos anos atrás, logo após a sua morte, por uma de suas filhas, Terezinha Landim, também de saudosa memória, quando à época fazia pesquisa genealógica sobre os meus ancestrais. Nela consta a seguinte anotação, que transcrevo como lá se encontra "Chegou Irmão Lino Gabriel vindo de Pernambuco em visita a família. Passou em minha casa Domingo 20, fomos para Manuel Vaz no dia 21 e voltamos no dia 22, em uma terça-feira, neste mesmo dia partiu para Fortaleza, tendo ido no dia 24 para Lagôa Secca em visita aos nossos caros pais. De volta regressou para o Pará. Tendo saido de Campo Bello a 1h e 15 da tarde. Veio com o Ir. Joaquim.
Campo Bello 23 de janeiro de 1929.
Saudades de meu querido irmãosinho".
Ora, essa informação eu já tinha conhecimento há bastante tempo, mas por negligência de minha parte nunca me veio a mente em sondar alguém da família, a quem se referia essa minha tia sobre esse seu irmão, até por que ela não fazia referência ao nome desse seu irmão. "Agora Inês é Morta".
O certo é que muito cedo despertou em meu Pai o desejo de fazer parte da Congregação Marista, não sei o que teria motivado a esse intento. Apenas sabia que seus pais eram extremamente religiosos, e talvez isso o teria influenciado de alguma forma, ou influência de algum Irmão Marista que tenha visitado aquela região de Campos Belos que, a época, pertencia eclesiasticamente ao município de Pacoti-CE.
Em recente conversa com o generoso Irmão Marista, Antônio Aguiar, radicado na cidade de Maranguape-CE, o mesmo me participou que existiu no início do século XX, um irmão marista de Apipucos, em Recife, Pernambuco, que se embrenhava pelo Nordeste à procura de jovens para ingresso nessa congregação, fruto de inspiração do seu fundador, Marcelino Champagnat, homem cujo pensamento ia além das idéias educacionais do seu tempo, demonstrando ser um excepcional educador da juventude, hoje difundido em 77 países.
Meu pai relata em sua agenda pessoal, que saiu da casa de seus pais para ingressar na Congregação Marista, em Apipucos-PE, em 25 de fevereiro de 1924. Já minha avó, em sua caderneta de anotações, afirma que ele deixou o lar materno às 00h45 da madrugada da terça-feira 26 de fevereiro de 1924, que embarcou no dia 5 de março, em uma quarta-feira. Que tomou o hábito de marista no dia 13 de janeiro de 1927. Que fez a primeira visita aos pais no dia 23 de janeiro, voltando no dia 30 às 23h30.
Com tantas riquezas de detalhe, prefiro ficar com as informações de minha avó paterna, em face de inclusive os dias da semana baterem com as datas mencionadas, bem como a data da tomada de seu hábito, se comprovar com a data registrada no livro de Registro Geral da Província Marista do Brasil Norte, Volume 1, onde constam os dados de meu Pai, quando de sua permanência na Congregação Marista, cuja matrícula lhe foi dada sob o número 9244.
E foi assim que meu pai, com o espírito marista, deixou a casa paterna quando ainda contava apenas com 16 anos de idade, para um mundo totalmente diferente de seu habitat, pois até então ajudava meus saudosos avós, no cultivo agrícola, na propriedade de seus avós "Fazenda Feijão", fincada na povoação de Campos Belos, hoje distrito do município de Caridade-CE.
Não sei quem o conduziu até a cidade de Recife, mas com certeza partiu do então viaduto Moreira da Rocha, em Fortaleza, que servia de viaduto de desembarque, que posteriormente passou a chamar-se Ponte Metálica, onde nela desembarcavam e embarcavam passageiros e cargas no começo do século XX.
Meu pai permaneceu na Congregação Marista até dezembro de 1935, portanto, 11 anos de vida marista. Não sei o que teria levado a desistir de sua vocação marista que estava tão bem consolidada; se algum tipo de revolta ou se algum tipo de sentimento de paixão tenha abalado o seu coração frágil, ou até mesmo, algum tipo de doença que o faria desistir .
Não importa essa sua desilusão, se é que foi. O importante e que ele em vida repassou a seus filhos o legado de uma formação moral e religiosa embasada nos princípios cristãos, mesmo tendo-nos criado numa forma rígida, sempre demonstrou um relacionamento de carinho, lealdade e respeito.

Mala em madeira revestida de tecido pintado na sua parte externa e papel decorado em sua parte interna.

Essa mala data de 1924, ano em que meu Pai deixou a casa paterna aos 16 anos de idade para ingressar na Congregação Marista. Com ela, ele esteve na antiga Casa Provincial dos Maristas, em Apipucos-Recife-PE e, posteriormente, no Instituto de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará. Serviu de transporte e guarda-roupa de seu vestuário do dia-a-dia. Também essa mala serviu de transporte e de guarda-vestidos de minha irmã Eneida, quando de sua pernamência no Colégio Instituto Maria Imaculada, em Pacoti-CE, na condição de aluna interna. Atualmente, com 83 anos de uso, ela ainda é utilizada na residência de minhas irmãs Eneida e Zeneida, à Travessa Comendador Acioly, 70 - altos - em Fortaleza-CE.