
"O homem foi feito para lembrar e ser lembrado".
Luiz Edilson Pinheiro Landim era o seu nome completo. Nascido aos 11 de julho de 1907, numa quinta-feira, às vinte horas da noite, quando a Igreja Católica Apostólica Romana celebrava a memória de São Pio I, em uma pequenina casa conhecida como "casa da farinha" que ficava defronte à casa-grande da Fazenda Feijão, esta última ainda existente e centenária, às margens tranqüilas e perfumosas do rio Capitão-mor, encravada nos sertões de Campos Belos, então distrito de Pacoti-CE, hoje pertencente ao município de Caridade-CE.
Lá viveram, com muita paz e na simplicidade, meus avós e meu pai, no embalo morno do vento do meio-dia e da brisa suave ao cair das tardes que deixaram um ninho de SAUDADES.
Foi batizado no domingo 25 de agosto de 1907, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Pendência, hoje do município de Pacoti, no Estado do Ceará, em cerimônia ministrada pelo Pe. Emilio Leite Alvares Cabral. O termo deste batismo encontra-se à fl. 69, do Livro nº 9, de Registros de Batizados da Paróquia de Pacoti, destacando-se a seguinte nota em grafia da época: "Aos vinte e cinco de Agosto de mil e novecentos e sete na Matriz o Revdmo. Pe. Emilio baptisou solemnemente o parvulo Luiz fl. de José Moreira Pinheiro Landim e de Eduviges de Lima Landim, nasceu á onze de julho desse mesmo anno. PP. Francisco Alfrêdo Pinheiro e Isabel de Lima Bezerra. E para constar mandei fazer este assento que assigno. Pe Antonio Tabosa Braga."
Neto, pelo lado paterno, de Francisco Rodrigues Pinheiro Landim (Pai Landim), natural da cidade de Solonópole, antigamente denominada de Cachoeira do Riacho do Sangue, e de sua esposa Josepha Dina Dantas Landim (Mãe Dina), natural da Fazenda Riachão da Lagoa Nova, hoje cidade de Capistrano, município do Ceará, e, pelo lado materno, de Temótheo Sabino Ferreira Lima e Petronilla Candida de Lima, ambos naturais de Pacoti, município localizado na região do Maciço de Baturité - Ceará.
Dois anos depois de seu nascimento, o meu avô paterno José Moreira Pinheiro Landim, registrava meu pai no Cartório de Registro Civil de Pacoti-CE, perante o escrivão de registro Luiz Gomes Maciel da Silveira. Vejamos o seu registro:
"Aos quinze dias de maio de mil novecentos e nove, nesta vila de Pacoti, Comarca de Baturité, Estado do Ceará, compareceu em meu cartório o cidadão José Moreira Pinheiro Landim e, perante as testemunhas abaixo assinadas, declarou que no dia onze de julho de mil novecentos e sete, na Fazenda Feijão, da Povoação de Campos Belos, deste município, as vinte horas da noite, na casa de sua residência, sua mulher Eduviges de Lima Landim deu a luz a uma criança do sexo masculino que batizou-se com o nome de Luiz Edilson Pinheiro Landim, que dita criança é seu filho legítimo e de sua mulher, casados nesta Vila, de condições regulares, criadores, naturais deste Município onde são moradores. São avós paternos da criança Francisco Rodrigues Pinheiro Landim e Josepha Dina Dantas Landim e maternos Temótheo Sabino Ferreira Lima e Petronilla Candida de Lima. Do que para constar lavrei este termo que assino como declarante e as testemunhas. Eu, Luiz Gomes Maciel da Silveira, escrivão do registro civil o escrevi. - José Moreira Pinheiro Landim - João Dantas Pinheiro Landim - José Gomes Pimenta."
Fez sua primeira Eucaristia na terça-feira, 15 de dezembro de 1914, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Pacoti - CE, onde também veio a se crismar no domingo 19 de setembro de 1915, pelo Frei José.
Sua iniciação nos estudos foi com a mestra Diva Leão, professora pública da então povoação de Campos Belos. Destinado, a princípio, à vocação religiosa, seguiu ainda muito jovem para Recife, onde ingressou, no sábado 1º de março de 1924, como aluno na Casa Provincial dos Irmãos Maristas de Apipucos, em Recife-PE. Em 5 de maio de 1926, entra no juvenato, ou seja, 1ª etapa de formação à vida religiosa, e em 13 de janeiro de 1927, também em Apipucos, tomou o hábito e o nome religioso de Lino Gabriel, e em 13 de janeiro de 1928, emitiu os primeiros votos.
De lá, em janeiro de 1929, segue para o afamado Instituto de Nossa Senhora de Nazareth, em Belém do Pará, vindo a fazer seus votos perpétuos em 16 de dezembro de 1932. Como religioso exerceu o Magistério no Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, entre 4 de fevereiro de 1929 até sua saída em julho de 1935, lecionando as disciplinas Português e Geografia, revelando sempre ótimas qualidades morais que o tornaram, sobremodo, estimado por quantos o conheceram. Também, nesse afamado Instituto, meu pai veio a diplomar-se em Técnico de Contabilidade.
Não tinha, porém, firmeza em sua vocação religiosa, e deixando o Instituto Marista, em julho de 1935, retorna ao Ceará em meados de 1936 para, a convite de seu primo legítimo e vigário da Paróquia de Morada Nova, Pe. Aluísio Ferreira Lima, exercer as funções do magistério em um estabelecimento de ensino da rede municipal daquela cidade.
Corre o ano de 1937 e meu pai já está com 30 anos quando fixa residência na cidade de Canindé-CE, onde, a convite do Reitor do então Colégio Santo Antônio, dirigido pelos frades franciscanos, lecionou algumas disciplinas.
Naquele mesmo ano, veio a se engraçar pela minha mãe Tereza Cândida Saraiva Leão Sobrinha, a luz da nossa vida, natural de Quixeramobim-CE, onde nasceu em 10.10.10, pedindo-a em casamento no dia 17 de março ao seu futuro sogro (meu avô materno) José Bougival Saraiva Leão, o Leão, como lhe chamavam, o qual muito se contentou, pois na condição de viúvo de Thereza Cristina Saraiva Leão, e com uma saúde bastante comprometida, ainda tinha sob a sua tutela essa única filha solteira e, desse modo, não queria deixá-la desamparada. E ali se casaram no sábado primeiro de maio de 1937, às 5:00 horas da manhã na capela de Santo Antônio, no Convento dos frades franciscanos, sendo oficializado o ato religioso por Frei Celestino Knob, OFM, um grande amigo de seu sogro. Compareceram a essa cerimônia religiosa o Juiz de Direito, Dr. Manoel Sancho Campêlo, e sua consorte, Dona Tecla Cordeiro de Magalhães, acompanhados de suas filhas Antonieta Magalhães Campêlo Cruz e da religiosa Geraldina de Magalhães Campêlo (Irmã Germana), deixando de comparecer o meu avô Leão, em face do mesmo já se encontrar paraplégico, impossibilitando, assim, o seu deslocamento. Desta união conjugal nasceram oito filhos, dos quais dois são falecidos: Maria Helena e Luiz Evandro.
O Dr. Campêlo, como familiarmente conhecido, era casado em primeiras núpcias com Dona Amélia Castelo Branco Campêlo, falecida em 21 de janeiro de 1900, filha do Cel. João Pereira Castelo Branco e Dona Maria Oliveira Castelo Branco, residentes em Baturité-CE, sendo o Cel. João Pereira, primo em segundo grau do meu avô materno Bouvigal Leão.
Na sexta-feira 4 de junho do mesmo ano, oficializava o seu casamento civil contraído perante o Juiz de Direito, Dr. Otávio Facundo Bezerra, conforme às fls. 87v a 89 do Livro nº 7 do Registro de Casamento, lavrado pelo Bacharel Otávio Facundo Bezerra, Oficial do Registro Civil da Comarca de Canindé-CE, tendo como testemunhas os senhores Antônio Pires Barrocas e seu primo legítimo Manoel Róseo Landim, passando a minha mãe a assinar por Tereza Cândida Saraiva Landim.
Depois de um curto período no exercício do magistério no Convento Santo Antônio de Canindé, o meu Pai foi nomeado Escrivão da Coletoria Estadual de Canindé, conforme título de nomeação datado de 15 de fevereiro de 1938.
Em 12 de julho de 1939, é novamente designado para responder pelas funções de Escrivão daquela Coletoria, conforme D.O.E Nº 1.736, de 31 de agosto de 1939.
Com a vacância do cargo de Coletor Estadual de Canindé-CE, deixado pelo meu avô paterno, José Bougival Saraiva Leão, ocorrido em 6 de julho de 1937, meu Pai foi nomeado como seu preposto, conforme ato de nomeação do senhor Mozart Catunda Gondim, Diretor Geral do Tesouro do Estado da Secretaria de Negócios da Fazenda, mediante o Ofício de Nº 481/38, datado de 13 de abril de 1938, e registrado naquela repartição sob o nº 3866/38, cargo esse que desempenhou até meados de 1940, quando, por ato do Secretário de Negócios da Fazenda, foi dispensado do cargo, conforme Ofício de Nº 108/40, datado de 23 de fevereiro de 1940, e registrado naquela repartição sob o nº 2293/40.
Durante o governo do Dr. Francisco Menezes Pimentel, Interventor Federal do Ceará, mais precisamente a 9 de março de 1945, é nomeado, em caráter efetivo, para exercer o cargo de Escrivão da Coletoria das Rendas Estaduais de Canindé.
No ano de 1950, meu Pai submeteu a um concurso público, para o cargo de Tesoureiro da Secretaria dos Negócios da Fazenda, regulado pela Portaria Nº 47, de 25 de maio de 1950, sendo classificado em segundo lugar, por haver logrado nota de aprovação, média de 82 pontos, conforme resultado publicado no Diário Oficial do Estado Nº 4.946, datado de 23 de setembro de 1950, mas que lamentavelmente, para sua absoluta surpresa, não assumiu esse cargo, em face de outro cidadão de iniciais A.B.C., assumir a sua vaga, sem se quer ter participado daquele certame, pelo que ficara prejudicado os seus direitos e a seriedade do referido concurso. MARACUTAIA. (D.O.E. de 11/06/1951).
Novamente, a 25 de agosto de 1955 e a 9 de agosto de 1962, é designado, em caráter interino, para responder pelo expediente daquela Coletoria. Foi nomeado ainda, em 24 de janeiro de 1964, conforme Portaria nº 48/64, expedida pelo então Secretário da Fazenda, para exercer as funções de escrivão supervisor daquela Exatoria.
Finalmente, a 4 de maio de 1964, pela Portaria nº 326/64, é escolhido para exercer as funções de chefe da Coletoria Estadual de Canindé.
Após 30 anos de serviços prestados a esse município, transfere residência com sua família para a capital cearense, onde veio a se aposentar, a 17 de agosto de 1972, no cargo de Inspetor Fazendário I, Nível N, da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, por ato do governador Dr. César Cals de Oliveira Filho, conforme Ato publicado no D.O.E Nº 11.008, de 02 de fevereiro de 1973, Processo nº 5.567/66 do DAPEC.
Meu Pai também foi um dos sócios fundadores da Associação Cearense dos Jornalistas do Interior (Aceji), uma extensão da Associação Cearense de Imprensa (ACI), quando foi fundada em junho de 1963, por ocasião do II Congresso dos Jornalistas do Interior, realizado na cidade de Canindé, tendo como seu primeiro Presidente o jornalista e Promotor de Justiça aposentado José Gusmão Bastos.
Alguma coisa, no entanto, forte e perene, tinha em comum: a mesma paixão e provado devotamento pelo sertão, dedicando-se inteiramente aos labores agrícolas em sua propriedade, Fazenda Feijão, santuário de recordações de seus antepassados, herdada em parte por herança de seus pais. Eu mesmo, quando morava na cidade de Canindé, durante a minha pré-adolescência, muitas vezes acompanhava meu pai na garupa de sua motocicleta Monark, modelo 1954, a esta secular propriedade, sempre aos domingos ao raiar do dia, quando lá me deliciava com cuscuz preparado em cuscuzeira de barro e bolinhos de milho assados na grelha do fogão a lenha, iguaria última que minha Tia Mundinha apelidava de chapéu de couro.
Essa cunhada de meu Pai, minha querida e inesquecível Tia Mundinha Landim, esposa de meu Tio paterno Francisco Eduardo Pinheiro Landim, eram proprietários da Casa Grande da Fazenda, também herdada por herança, e posteriormente vendida ao meu irmão Fernando Antônio Saraiva Landim. O tio Eduardo era o meu santo protetor de minhas traquinices, quando de minhas férias em seu lar. Hoje, ambos já falecidos. Tudo isso já vai tão longe e de repente fica tão próximo, tão presente está na minha memória.
Meu saudoso Pai veio a falecer numa segunda-feira do dia 15 de junho de 1987, em Fortaleza, sendo sepultado, no dia seguinte, no Jazigo 31, da Quadra 061, do Setor-E no Cemitério Parque da Paz, logo após a missa de corpo presente concelebrada pelos seus primos legítimos, Monsenhor Francisco Abelardo Ferreira Lima e Padre José Haroldo Bezerra Coelho, com a presença de grande número de membros de nossa família e amigos. A Missa de sétimo dia foi concelebrada na Paróquia de São Gerardo de Majella, pelo seu primo legítimo, Monsenhor Francisco Abelardo Ferreira Lima, já falecido, e de saudosa memória, de cuja Paróquia era vigário, e pelo nosso primo materno, Padre Hugo Eduardo Furtado, SJ.
Nosso Pai primava pelo bom senso nos seus discernimentos. Nunca foi além do que os seus parcos recursos financeiros permitiam. Tinha verdadeira fobia em contrair dívidas e se afligia quando um filho mostrava-se um pouco ousado nos seus empreendimentos.
Sobral - Ceará - Ano de 2007